segunda-feira, 24 de setembro de 2012

EM BREVE: SOBREVIVENDO AO PESADELO

Em breve Lançamento on line do primeiro romance de A J Silva. 

Aguardem.

Preview:
  
 "...Um rosto, aos poucos, vai se formando à sua frente. É um homem. Suas faces encovadas demonstram o quão extrema pode ser a dor. Os olhos fundos parecem não possuir mais nenhum sinal de vida, mas de alguma forma, por teimosia talvez, aquele homem insiste em continuar vivo. Filetes de sangue escorrem de ambos os olhos, abrin-do caminho nas faces e indo formar duas poças vermelho-escuras dos dois lados da ca-beça. 
Da boca, deformada por um terrível inchaço nos lábios, agora enegrecidos, o sangue sai em golfadas, indo sujar a roupa dos profissionais de saúde (médicos, anes-tesistas e enfermeiros) que estão em sua volta com o, aparentemente vão, intuito de sal-var sua vida que se esvai, pouco a pouco e com extremo sofrimento. 
Alex sente vontade de terminar com o sofrimento do homem a sua frente, de a-cabar de vez com aquela dor. Aproxima-se mais um pouco para poder ver melhor aquela cena dantesca. Agora pode divisar melhor seu corpo, na verdade um farrapo humano emagrecido ao extremo por aparente desnutrição. A impressão que o jovem tem é a de que aquele homem não come há meses. Suas costelas estão à mostra, pois já não há tecido adiposo ou músculos pra cobri-las, havendo apenas a pele macilenta e coberta de manchas roxas. 
Volta sua atenção novamente para aquele rosto. É engraçado, ele pensa, como é forte a impressão de já ter visto aquele rosto em algum lugar. 
Parece o… Um som, que só ago-ra Alex notara, tornara-se mais intenso. É um bipe, um marcador de batimentos cardí-acos que está ligado ao homem, monitorando-o. O som se torna cada vez mais intenso, avisando que seus batimentos estão rápidos demais, a beira de fazer seu coração ex-plodir. A hemorragia, que havia dado uma trégua, retorna com força total, o sangue saindo de todos os orifícios de sua cabeça. 
O homem está suando e Alex nota que seu suor está avermelhado. O homem está suando sangue, tendo hemorragia por todos os poros do corpo. Os médicos estão nervosos. São dois: o Doutor Rogério e um outro que o rapaz não reconhece. Eles gritam com os outros profissionais, ordenando o aumento ou a di-minuição nas doses de determinadas substâncias que estão sendo aplicadas. Todos tra-balham muito rapidamente e Alex não consegue acompanhar o ritmo. Vai ficando zonzo. A vista ameaça turvar-se. 
Num esforço extremo, mantém-se alerta. Lembra-se de ter reconhecido o rosto e resolve verificar de novo. Não pode ser! Pensa (ou grita, não tem certeza). Aquele homem se parece muito com o Juliano! Como pode? É apenas um farrapo humano! Entretanto, ele agora tem certeza de que aquele homem esticado na maca da UTI é o seu amigo. 
O desespero toma conta de Alex. O monitor de batimentos diminui seu ritmo, en-tretanto, está entrecortado. O jovem olha para um monitor ao lado da maca e, ao mes-mo tempo em que o bipe, que ouvia até então, se torna um zumbido contínuo a se espa-lhar pelo ambiente, uma linha contínua se forma, indicando que já não há nada a ser feito. 
Inutilmente, os médicos ainda tentam ressuscitar o paciente, porém Alex sabe que é inútil. 
Não há mais nada a ser feito. 
Acabou-se. 
Um sentimento de falibilidade se abate sobre ele. Queria poder fazer algo, mas não dá. Ele é falho, imperfeito. Não tem o conhecimento necessário. 
Não tem o poder necessário. Não é Deus. “Por que Deus Deixou isso acontecer?” 
“Mas que Merda!” Exclama. “O Juliano está... está... morto.” 
A sala onde se encontra começa a girar. 
Os médicos abandonam seu amigo morto e vão a seu encontro. Suas expressões o assustam. Parecem loucos. Olhos vermelhos olham na sua di-reção. 
— Ele “tá” morto! — Exclama uma enfermeira. Os cabelos loiros cobertos de sangue. — Você é o próximo. 
A sala continua a rodar cada vez mais e mais rápido, os médicos rodopiando junto, como a bailarem uma dança infernal. Sorrisos esganiçados, gargalhadas enlou-quecidas. 
A Escuridão volta a reinar. Um medo inominável se apodera de Alex, já que não consegue mais divisar seus inimigos. 
No minuto seguinte, ele é tomado por uma paz in-descritível. Nada mais importa, A morte do amigo simplesmente se apaga de sua mente e a escuridão agora é sua fiel companheira. Seus medos desaparecem. Sua dor se esvai. Sua própria noção de existência de-saparece. O nada é seu tudo. A inexistência, sua realidade... "

 por A. J. Silva