segunda-feira, 1 de agosto de 2016

SAUDADE

SAUDADE
ou um breve conto do passado

Sabe aqueles dias que você acorda melancólico? Pensando  naquilo que já fez, no que poderia ter feito, na vida que viveu, nas pessoas que amou, as que você odiou (ou quase). Enfim, imaginando se a vida valeu a pena mesmo e se ainda há muito por vir ou se você parou no tempo mesmo.
Então, o lance é que acordei meio assim hoje e o que acabou me perseguindo o dia todo, foi o fator físico. Não que eu tenha sido forte, atlético, melhor atacante, zagueiro mais foda nem nada. Eu nem curtia muito fazer esportes.  Aliás, na verdade eu era mesmo péssimo.

Mas criança é criança e, por mais nerd que seja sempre adora se exercitar. Ainda que seja só andar de bike ou correr feito louco na rua. E eu não fui diferente.

Não era o melhor em nada, mas também não tava nem aí pra isso. Queria subir na goiabeira, na mangueira, na jaboticabeira, na amendoeira (essa é perigosa). Queria correr com os amigos. Apostar corrida, mesmo que fosse pra perder. Eu queria era a adrenalida. Brincar de pique, policia e ladrão. Queria ter um kixute e ter garras de tigre com ele, podendo correr mais rápido, saltar mais longe, dar aquelas derrapadas do comercial. E olha que o negócio era bom mesmo pra isso. O meu sofreu na minha mão (não seria nos pés?), coitado.

Enfim, eu não ganhava as corridas, mas competia. E nem sempre era o último. Eu não mergulhava da ponte do Ribeirão das Lages, mas mergulhava do barranco próximo (um pouco mais baixo, mas alto o suficiente pra dar cagaço). Não fui o melhor em futebol, mas tentei. Tentei até poder dar desculpa de que não gostava de jogar, pra não admitir o quão “pereba” eu era. Não ganhei competições de bike, mas com amigos, percorremos diversas vezes toda a região aqui da cidade. Eu não venci todas as lutas, mas também não perdi todas. E jamais, jamais mesmo fui pra casa chorando (mãe batia mais).

Enfim, eu vivi a boa vida, lutei a boa luta (quem disse isso mesmo?) e cá estou. Imaginando se ainda há muito a fazer, mas com aquela certeza de que as grandes aventuras já se foram. Que a adrenalina não e mais meu vício preferido e que o tempo  bate à minha porta cobrando seu pedágio.
Sei o que está pensando: “Deixa disso, você não e tão velho assim. Ainda pode se exercitar, praticar algum esporte”
Posso sim! Claro! Por que não?
Caminhadas matutinas, andar um ou dois quilômetros de bicicleta (de preferência não ir muito longe, né? Vai que cansa),  fazer aqueles exercícios nos aparelhos da pracinhas onde os velhinhos costumam se exercitar, etc. Quem sabe talvez uma corridinha bem light de vez em quando...
Legal isso. Até planejo mesmo fazer. Mas não é do que estou falando. Não é disso que sinto falta.
Queria a adrenalina de volta. A competitividade dos amigos, a liberdade. Aquela sensação de poder ser o Indiana Jones tupiniquim só por que saltei de um muro em um galho de árvore.  O poder do Superman ao saltar daquela ponte e sentir que abaixo de você não tem mais chão pra apoiar e a gravidade está fazendo seu trabalho. A Energia fluindo enquanto vc pedala horas a fio na zona Rural. 
Acho que esse tempo já passou.
Bom, vou por meu cachecol, minhas meias e chinelas. Tomar o chazinho que dona Cristiane fez e me deitar para assistir um seriado qualquer.


Até a próxima.